É engraçado como uma fita de veludo e um par de moedas
chinesas podem resgatar a tua memória. Tu, que vieste do outro lado do
Atlântico ao ritmo do samba, trazendo a pele morena, o sorriso fácil e os gestos espontâneos que
conquistam os corações. É irónico como agora nem o teu nome consta da escrita inteligente do meu telemóvel. Mandavas-me milhares de milhões de beijos enquanto estudavas as galáxias no
livro de Física e povoaste os meus sonhos durante anos a fio. Nunca me
esquecerei da primeira sms que me enviaste, numa noite de Março, lida e relida
tantas vezes com uma atenção que visava adivinhar cada entoação daquelas palavras. Já não me lembro do que
dizia. Talvez tivesse sido um convite para uma festa de escola. Ou mais subtil
ainda, talvez tivesse sido apenas um inocente “vais à festa?”.
Uma vez andei contigo de mota. Fui a última das raparigas a andar contigo e senti-me tão feliz e tão especial pelo simples facto de, comigo, teres dado uma volta maior ao quarteirão. A meio da viagem, perguntaste-me algo que eu não cheguei a perceber. Só sei que depois hesitaste e voltaste para trás. Teria sido outro convite? Nunca o saberei... Sempre foste imprevisível e ainda hoje me pergunto o que estarias a magicar enquanto eu seguia à boleia, com os braços bem firmes à volta da tua cintura.
Uma vez andei contigo de mota. Fui a última das raparigas a andar contigo e senti-me tão feliz e tão especial pelo simples facto de, comigo, teres dado uma volta maior ao quarteirão. A meio da viagem, perguntaste-me algo que eu não cheguei a perceber. Só sei que depois hesitaste e voltaste para trás. Teria sido outro convite? Nunca o saberei... Sempre foste imprevisível e ainda hoje me pergunto o que estarias a magicar enquanto eu seguia à boleia, com os braços bem firmes à volta da tua cintura.
Também me lembro dos jogos de futebol a que assistia nas bancadas
da escola com as minhas amigas. Cantávamos canções de amor e soltávamos
suspiros enquanto esperávamos que, no calor do jogo, os rapazes nos atirassem
as suas sweat-shirts. Quando isso acontecia, embriagávamo-nos com as essências de
cada um, tentando descobrir o seu perfume. Nunca consegui descobrir o teu.
Talvez o odor doce que sentia fosse o do teu corpo, da tua pele morena torrada
pelo sol.