sábado, 22 de junho de 2013

Belo Horizonte - MG

É engraçado como uma fita de veludo e um par de moedas chinesas podem resgatar a tua memória. Tu, que vieste do outro lado do Atlântico ao ritmo do samba, trazendo a pele morena, o sorriso fácil e os gestos espontâneos que conquistam os corações. É irónico como agora nem o teu nome consta da escrita inteligente do meu telemóvel. Mandavas-me milhares de milhões de beijos enquanto estudavas as galáxias no livro de Física e povoaste os meus sonhos durante anos a fio. Nunca me esquecerei da primeira sms que me enviaste, numa noite de Março, lida e relida tantas vezes com uma atenção que visava adivinhar cada entoação daquelas palavras. Já não me lembro do que dizia. Talvez tivesse sido um convite para uma festa de escola. Ou mais subtil ainda, talvez tivesse sido apenas um inocente “vais à festa?”.

Uma vez andei contigo de mota. Fui a última das raparigas a andar contigo e senti-me tão feliz e tão especial pelo simples facto de, comigo, teres dado uma volta maior ao quarteirão. A meio da viagem, perguntaste-me algo que eu não cheguei a perceber. Só sei que depois hesitaste e voltaste para trás. Teria sido outro convite? Nunca o saberei... Sempre foste imprevisível e ainda hoje me pergunto o que estarias a magicar enquanto eu seguia à boleia, com os braços bem firmes à volta da tua cintura.

Também me lembro dos jogos de futebol a que assistia nas bancadas da escola com as minhas amigas. Cantávamos canções de amor e soltávamos suspiros enquanto esperávamos que, no calor do jogo, os rapazes nos atirassem as suas sweat-shirts. Quando isso acontecia, embriagávamo-nos com as essências de cada um, tentando descobrir o seu perfume. Nunca consegui descobrir o teu. Talvez o odor doce que sentia fosse o do teu corpo, da tua pele morena torrada pelo sol.
Há sorrisos que deixam saudades.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Semi-frio

É engraçado como há alturas em que a natureza reforça o nosso estado de espírito. Dizem que a temperatura máxima vai continuar a descer até ao último dia da semana.
Voltam os casacos, as mantas no sofá e as chávenas de chá entre as mãos. Sabe bem voltar a sentir os braços nus envoltos em algodão macio e dormir com mais uma camada de roupa a aquecer a alma. Sabe bem sentir esse apelo ao calor, ao conforto, à suavidade e deixar-me ficar assim, aconchegada, em silêncio, protegida pelo céu enevoado que lembra o Outono, enquanto tudo já reclama os dias solarengos do Verão.


domingo, 2 de junho de 2013